sábado, 11 de dezembro de 2010


PAGU

 






Patrícia Rehder Galvão
09/06/1910 -12/12/1962

"Quero ir bem alto... Bem alto! Numa sensação de saborosa superioridade... É que do outro lado do muro, tem uma coisa que eu quero espiar.. "


A libertária musa do modernismo
Patrícia Rehder Galvão defendia a participação ativa da mulher na sociedade e na política - e foi a primeira brasileira do século 20 a ser presa política.



Aos 19 anos conheceu o casal de modernistas Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral que a apresentaram ao movimento antropofágico e praticamente a "adotaram".
Em 1930, se casa com Oswald de Andrade, após a sua separação de Tarsila Amaral, nesse mesmo ano conheceu, na Argentina, Luís Carlos Prestes, e retorna entusiasmada com os ideais marxistas.

Na volta, filiou-se ao Partido Comunista, e em março de 1931, o casal fundou o jornal "O Homem do Povo", que apoiava "a esquerda revolucionária em prol da realização das reformas necessárias". Em seus artigos, Pagu criticava as "feministas de elite", e os valores das mulheres paulistas das classes dominantes. No mesmo ano, em 15 de abril de 1931, Pagu foi presa como militante comunista, durante uma greve dos estivadores em Santos


Seu primeiro romance, "Parque industrial", publicado em 1933, Pagu teve de assinárlo como Mara Lobo, exigência do Partido Comunista. A obra é uma narrativa urbana sobre a vida das operárias da cidade de São Paulo.


Correspondente de vários jornais, Pagu visitou os Estados Unidos, o Japão e a China. Pagu foi à União Soviética, se decepciona com o comunismo e publica em "Verdade e Liberdade": "o ideal ruiu, na Rússia, diante da infância miserável das sarjetas, os pés descalços e os olhos agudos de fome".

Duas tentativas de suicido, uma em 1940,depois da segunda prisão no Brasil, e em 1949, após esta face, foi crítica literária, teatral e de televisão no jornal "A Tribuna", de Santos.

Muito doente, viveu até dezembro de 1962. Na véspera de sua morte, um último texto seu é publicado em "A Tribuna" - o poema "Nothing".

 "Nothing".
Nada nada nada
Nada mais do que nada
Porque vocês querem que exista apenas o nada
Pois existe o só nada
Um pára-brisa partido uma perna quebrada
O nada
Fisionomias massacradas
Tipóias em meus amigos
Portas arrombadas
Abertas para o nada
Um choro de criança
Uma lágrima de mulher à-toa
Que quer dizer nada
Um quarto meio escuro
Com um abajur quebrado
Meninas que dançavam
Que conversavam
Nada
Um copo de conhaque
Um teatro
Um precipício
Talvez o precipício queira dizer nada
Uma carteirinha de travel’s check
Uma partida for two nada
Trouxeram-me camélias brancas e vermelhas
Uma linda criança sorriu-me quando eu a abraçava
Um cão rosnava na minha estrada
Um papagaio falava coisas tão engraçadas
Pastorinhas entraram em meu caminho
Num samba morenamente cadenciado
Abri o meu abraço aos amigos de sempre
Poetas compareceram
Alguns escritores
Gente de teatro
Birutas no aeroporto
E nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário